sábado, 9 de abril de 2011

Nota sobre uma velhice precoce

Não são raras às vezes em que escuto que estou ficando velho. Não no sentido físico, já que tenho me cuidado com um rigor espartano. Além da vergonha na cara, quando saio de casa é um tal de protetor solar fator 50, no cardápio do dia sempre tem maçã, castanha do Pará, chá verde, e essas coisas que dizem que retardam o envelhecimento. Mas não escrevo sobre dicas de beleza, ou de como conservá-la, e sim de estar velho de espírito, fato que é a mim imputado.


Joana, por exemplo, amiga que trabalha comigo, diz no alto de sua delicadeza de um terremoto acima de escala oito: “Deixa ser um velho, menino! Tu só tem 21 anos, deixa de pantinho. Afffff, sei não. Tu acha bonito isso, é?” Pior é que ela tem razão. Mas não é que eu busque essa “velhice”, apenas não tenho afinidades com determinadas posturas de encarar a vida. E noto que isso se deu de uns três anos para cá.

Quando tinha 18 anos, qualquer pessoa mais bem afeiçoada e com todos os dentes, já podia ser o grande amor da minha vida. Hoje, se a pessoa não tiver uma opinião formada sobre a Dilma, o boom econômico e a cultura liberal, já pode ser jogada na guilhotina do esquecimento. Antigamente, qualquer pano de chão que a empregada passasse na casa estava ótimo, e se ela se esquecesse de fazer alguma coisa, era apenas “doidinha” e “esquecida”, hoje, se ela chegar meia hora atrasada, já é motivo de estresse com direito a gastrite e dor de cabeça.


Com 18 anos, eu comia qualquer coisa e dormia em qualquer lugar. Agora, a comida tem que ser do dia, e o hotel tem que ter ar condicionado com porteiro educado e um café da manhã decente. Não sou do tipo aventureiro, que põe uma mochila nas costas e sai por aí desbravando o mundo. Gosto de acordar e saber, rigorosamente, o que vai acontecer comigo durante o dia. Tenho tendências a previsões. Não gosto de correr riscos. Se alguém me perguntar qual foi a maior aventura da minha vida, certamente não saberei responder. Não que tenha sido muitas, mas que provavelmente foram banais.

Sabemos que estamos ficando velhos, ou experientes, a partir do momento em que perdemos a capacidade de improvisar e ter jogo de cintura, ao tempo que nos enchemos de manias e rituais. O único problema de tudo isso é não conseguir se divertir com as coisas simples da vida, e isso, graças a Deus, ainda não perdi. Ainda sambo pelado um sambinha da Alcione na sala, leio o gibi do Chico Bento ouvindo Fafá de Belém só de cueca na cama, fuço no Orkut de pessoas que odiei no passado, entrego Oscar para mim no banheiro - com direito a discurso na frente do espelho - desço até o chão dançando brega, sambo na ponta do pé em lugares públicos, e paquero as pessoas no meio da rua sem medo de levar uma fluorescente na cara.