sábado, 8 de maio de 2010

Quando o algodão é doce

Na última sexta-feira (7),  vazou uma foto, no mínimo, suspeita dos jogadores Zlatan Ibrahimovic e Gerard Piqué, ambos do time catalão Barcelona. A imagem que sugere um romance, nesse caso, homossexual, casou polêmica em todo o mundo. Primeiro por se tratar de dois jogadores de futebol, uma profissão que denota masculinidade acentuada, corroborada com o fato de vestirem a camisa de um clube de tradição e respeito mundial, como o Barcelona.

Se a foto mostrasse o atacante Richarlyson com o também centrovante Ciro, dos times do São Paulo e Sport Recife, respectivamente, nesse clima de passione, a imagem serviria apenas como uma constatação da homossexualidade de ambos. E não seria passível do tipo da dúvida “Mas será que é flerte, mesmo?”. Oras, é. Eu não imagino qualquer heterossexual, com atestado, fazendo tal cena com outro semelhante de gênero. Posso estar sendo preconceituoso, ou caindo no senso comum. Mas se essa foto representa um gesto de carícias (não carinho) entre dois homens, o que mais poderia ser?

Para mim é tão revelador quando um homem diz que tá namorando uma “pessoa”, ou que vai sair com um “cara”. Sei que estamos no século 21, período de mudanças comportamentais e culturais. Mas creio que ainda não chegamos ao ponto de um heterossexual dizer “pessoa”, no lugar de namorada, guria, gata, nêga, mulher, mina, entre tantas. Ou então “cara”, no lugar de amigo, parceiro, brother ou chegado. Soa tão representativo de ato pederástico quanto ao ilícito de um vendedor gritando “Olha o sucesso” nas areias de Boa Viagem.

E não para por aí, a lista de verbetes denunciativos é grande. Vamos confessar que fabuloso, formidável, divino, encantador, aprazível e maravilhoso soam de forma estranha na boca de alguns homens. E o que desperta essa sensação em mim, não é só a palavra, mas o ritmo com a qual ela é falada. Demorar três segundos para falar MA-RA-VI-LHO-SO é um manta gay. Sei que isso tudo é muito maior do que uma simples observação sem espessura. Pode ser uma questão de refinamento e variedade vocabular. Repito que estou sujeito a preconceito ou desatualização. Mas tenho minhas convicções. E esses algodões são doces, sim.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O que é um cafuçu?

Cafuçu. Neologismo criado neste corrente século para designar alguns exemplares rústicos de homens. E seguiu o inevitável destino de toda palavra nova, caiu na banalização. Como resultado, cafuçu passou a ser qualquer um, só depende de quem chama. O que é uma injustiça, justiça seja feita. Tem gente que fala e não sabe nem do que se trata. Embarca no modismo engraçado da expressão e tome adjetivação cafuçônica.

É injusto porque cafuçu tem um valor que passa longe da trivialidade. Com grande disposição e competência sexual, é um tipo sociológico de grande utilidade pública. Rígidos com palavras e doces como amantes, não costumam deixar mulheres carente na mão - literalmente. A corrente de prata (?) no pescoço, logo estabelece o filo dessa espécie masculina. Uma liturgia de consagração. Se ficar na dúvida, dá para arrematar a certeza observando outras peças na indumentária: bermuda estampada ou jeans (desbotada), camiseta regata, sapato coyote, Ray-ban aviador made in Dantas Barreto. Seja usado tudo junto ou separado. Cafuçu de verdade não tem pudor.

De aspecto físico, bigode afinado, cabelo com algum efeito de (bom) gosto duvidoso e um corpo bem trabalhado. Fruto de um trabalho muscular de todo santo dia, o físico arremata suspiros. Sarado é redundância, é algo próximo a malicioso. O braço então, é chave de prisão perpétua, sem direito a banho de sol. O membro superior também é o responsável em tirar a carteira e o celular e colocar em cima da mesa do bar. Dono hábitos rudes e de refinamento algum, no ônibus, por exemplo, não se intimida em ouvir suas músicas em um volume coletivo. No bufê de festas, é o primeiro a descobrir a porta entre a cozinha e o salão, e oferece propina ao garçon em troca de um "atendimento especial".

Existem em todas as profissões, acredite. Muito embora, em alguns ofícios é barbada encontrá-los: motoboy, jogadores de futebol, entregadores em geral, garçons, caixas de supermercados, policiais, bombeiros, instrutores de auto-escola, músicos de banda... a lista é longa. Em linhas gerais, é o trabalhador braçal, que sabe trocar uma lâmpada, um botijão de gás, pintar uma parede. “Um homem não para conversar, mas para levar para a cama e resolver seus problemas”, simplifica uma amiga. Já uma outra, profunda conhecedora da alma humana, também tenta definir. “Cafuçu é aquele sujeito que não tem muito requinte intelectual nem disposição financeira. Tampouco liga para moda. Mas que te leva no forró e te faz sentir mulher”.

Alguém já disse que a humanidade se divide entre os que usam e não usam guarda-chuva. Eu vou além, acho que, na verdade, as pessoas se distinguem quando assumem que gostam de um cafuçú e quando mentem. Afinal de contas, cafuçu é irresistível porque põe a boca em tudo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Em cima do salto e de frente para o pênis

A analogia é inevitável. Trata-se de duas fontes de poder aparentes. Atire o primeiro Loubotin quem nunca se rendeu, mesmo que psicologicamente, a um belo par de salto alto ou a um pênis bem dotado. A despeito das óbvias diferenças funcionais que eles possuem, são vários os pontos em comuns entre esses dois objetos de desejo. De um lado, o salto alto representa uma espécie de ereção feminina, o pau duro das mulheres, no qual ela se auto-afirma. O tamanho da altura de seu pisante tem valor parelho aos centímetros do pênis para o sexo masculino. Quanto maior, mais sublime.



Mas nada de ilusões. Um bom salto, também pode ser um ótimo truque. Mulheres que experimentam pedir um aumento para o chefe ou terminar um namoro usando um salto alto, comumente saem por cima, e com o retorno positivo. Uns centímetros a mais nos pés e como num passe de mágica, o poder impera sob você. Ou você acredita no poder de uma travesti na esquina usando uma havaianas? Os saltos podem até incomodar, lesionar a coluna e problemas nessa ordem, mas que dão outra moral, isso é fato inexorável. É o viagra feminino, jamais deixa as damas na mão. Elas, com o salto, tentam escondem inseguranças, medos, anseios. Eles, com seus dotes em riste, facilitado pelo “azulzinho”, passam a ideia de viris e másculos.






Já reparou que as atrizes pornôs nunca, eu disse nunca, tiram o salto enquanto transam? Ela pode ter milhões de celulites, estrias e marcas de vacina. Mas mesmo em cima da cama tubular, ou da cadeira de plástico branca do sítio, enquanto estiverem de salto ninguém ousa em desmitificá-las. Com os atores o mesmo. As costas podem estar cravejadas de brotoejas e o português em falta, mas que importância tem isso perto de um pau grande e ereto?


E as semelhanças não param por aí. Estamos falando de duas coisas com as quais mulheres (de verdade) não vivem sem. Tá, ok. De vez em quando até vale a pena se render a uma “rasteirinha”. Te leva a qualquer lugar, mas, convenhamos, sem glamour algum. O pênis, por sua vez, encanta pelo seu tamanho. Pode ser que não funcione, mas é um fetiche. Sabemos que o volume ilude, nunca se sabe ao certo o que tem ali por dentro da cueca. Testículos enganam. É uma meia-pata, um salto do tipo Anabela. Confesse, um pinto grande cria uma atmosfera de fetiche, assim como um salto alto. E estou falando de algo muito mais ligado ao fator psicológico do que para o prazer físico. Salto alto incomoda. Pau grande também.






No capítulo auto-afirmação e segurança a regra também se aplica: o tamanho do salto é tão importante pra mulher como o do pau para o homem. Na balada, eles até negam, mas olham sim para o pinto do semelhante de gênero de mictório. No toalete feminino, o mulherio também observa os modelos nos pés das outras acima de qualquer outra coisa. Tamanha preocupação é esteira para uma expectativa. Ninguém espera pouca coisa de uma mulher sobre seu scarpin salto 15. Uma eventualidade dessas pode significar até homicídio. Um boy com um membro que ultrapasse os 22 centímetros também é alvo de grandes pretensões. Uma coisa “dar duas” sem nem tirar de dentro. Nessa história toda, o que vale a pena zelar é pela estética. Afinal de contas, nem todo salto alto é bonito, e nem todo pintão é para se admirar.